kenycharge300Uma eleição ganha com base no populismo clientelista. Um candidato com rótulo moderno para velhas práticas. A reeleição do professor de inglês Kenny Mendes (PSDB) para vereador pautou-se por um perfil político que pode levar eleitores a confundir as causas e bandeiras que por ele podem ser assumidas. Eleito pela primeira vez pelo DEM, o parlamentar abrigou-se no PSDB, que baliza sua conduta e o voto em plenário fiel ao governo tucano de Santos. Votou e vota propostas como terceirizações na saúde, aumento de impostos e outras matérias do espectro neoliberal ratificado no comando da cidade.

Rapidamente Kenny já percebeu que o aumento dos holofotes significa também maior cobrança. Até dentro de Casa. Devido às intervenções de colegas de plenário viu-se obrigado a retirar da pauta o primeiro projeto apresentado após as eleições. A postura de seus pares mostrou que Kenny pode ser campeão de votos, não de projetos. Ele propôs que empreendimentos, estabelecimentos ou órgãos públicos e privados sejam obrigados a instalar câmeras em padrões do sistema público de monitoramento. E que as cedam ao município.

Aprovado e sancionado o projeto criaria enorme despesa para o próprio município, uma vez que seria imposto a cada local com fluxo maior que mil pessoas. Com falhas primárias na elaboração os questionamentos fizeram com que emendas fossem apresentadas pelo autor e mesmo assim, viu-se obrigado a pedir a retirada da matéria da pauta. O parlamentar não pode criar serviços, o que é uma prerrogativa do Executivo. Não pode gerar gastos. Não pode legislar sobre matéria financeira.

Mas, chama a atenção a natureza da matéria. Com uma cidade que já conta com sistema de monitoramento, é necessária uma lei com esta finalidade? Qual seria o custo da implantação? Quem ganharia com isso? O vereador tem algum fornecedor para indicar? Sabe-se que o mercado opta por locar os equipamentos de empresas de seguro em vez de adquirir as câmeras. Quais empresas ou grupos fornecem tais equipamentos? O vereador recebeu alguma sugestão para apresentar o projeto?

Sem um apuro maior para a proposta, embarcar no marketing da segurança e do monitoramento não tornou o projeto do parlamentar convincente. A sociedade já paga pela segurança pública. A instalação obrigatória de sistemas integrados resolveria definitivamente a falta de segurança? O maior assalto da história recente em Santos, em uma transportadora de valores, foi totalmente gravado e não inibiu a ação da quadrilha. A atitude do parlamentar visou “jogar para a plateia”, mesmo sem uma garantia de eficácia?

Todas as questões apresentadas têm a finalidade de chamar a atenção para a qualidade do trabalho parlamentar e a competência do projeto. Nos últimos dois anos, 2015 e 16, até 13 de outubro, Kenny Mendes apresentou 26 projetos de lei. Dentre eles estão também a concessão de placas ou homenagens. Há também projetos vetados ou inviáveis como, por exemplo, a proposta de convênio da prefeitura com pet shops. O município repassaria recursos para os estabelecimentos particulares que apresentassem animais para adoção. A proposta não tem base legal. Os projetos do vereador não diferem em muito dos demais vereadores. Não foi o trabalho parlamentar que o levou à reeleição e sim sua popularidade.

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O vereador incorporou o perfil pop até como sugestão dos próprios alunos, que o incentivaram à política. Jovem, de estatura média, parece um garoto. Mas o diferencial de Kenny foi apostar na internet. Tem quatro perfis no Facebook, ou seja, mais de 20 mil “amigos”. Ai está segredo do sucesso. Para se inscrever nas aulas do professor é necessário receber um link de uma de suas páginas. Com acesso ao seu conteúdo, opiniões e interação.

Ao longo dos anos Kenny foi se tornando popular principalmente entre os mais jovens. O professor gaba-se de já ter dado aulas de inglês para mais de 11 mil alunos. Desde 2007, forma turmas semestrais de até cem alunos e dá as aulas gratuitamente, ou mediante taxas módicas. Iniciou na Universidade Santa Cecília e hoje estende a ação para diversos locais da cidade. O voluntarismo do educador não deixa de estar relacionado à troca de favores. Aulas em troca de votos. Quem já participou de seus cursos afirma que ele não pede votos, mas não consegue deixar de falar em política, já que os próprios alunos provocam a discussão.

Allan Kardec, 40 anos, controlador em uma empresa em Santos, estudou com Kenny um ano e meio, há cerca de dois anos. Estudante da Unisanta, teve aulas de inglês aos sábados, pagando R$ 20,00. Dá crédito ao professor, elogia sua didática e analisa que sua eleição e reeleição devem-se ao apoio de alunos e ex-alunos, mas também a outras iniciativas. Cita, por exemplo, lixeiras instaladas por ele pela cidade e que levavam o seu nome. “São atitudes inovadoras”, disse.