Plenario300“Sobre  a mesa veto do prefeito ao projeto numero tal, do vereador tal”. Ao ouvir isso na TV Câmara de Santos, o eleitor espectador não tem a mínima noção do que está sendo dito. Não é por acaso. O rito burocrático e o linguajar fechado, hermético,  têm o objetivo de afastar realmente o eleitor. Como se compreender e participar fosse para poucos. Claro, os eleitos e seus apoiadores. “Em votação o parecer contrário ao artigo primeiro da emenda número tal ao projeto de lei tal”. Pode-se saber o que será votado?

Foi sintomático na quinta (21), ao ser discutido um veto do prefeito a um item de um projeto de lei coletivo. A discussão ficou técnica, quando Fabrício Cardoso (PSB, primeiro mandato) falou sobre gema, ou o broto da árvore. Gracejos entre eles, poucos sabiam do que se tratava mas correram a saber. De onde se vê que os discursos, os projetos, os requerimentos previamente preparados passam bastante despercebidos pelo eleitor menos atento. Às vezes, até por quem os assina. Concorre para isso o fato de que quase tudo é ensaiado, dando um ritmo ainda mais frenético ao tempo legislativo. O momento em que alguém pede a dispensa da leitura da ata da reunião anterior é o clichê top entre os dez mais. Se ninguém pedir dispensa o secretário tem de ler a ata. Ninguém esquece de pedir.

Mas, o leitor tem o direito de saber o que esta sendo votado. So que para isso, precisa acessar a pauta e acompanhar. Dispor de tempo, interesse, equipamento e internet. A Câmara prestaria um bom serviço se valorizasse mais cada tema. Mas é o rito veloz que impera, com algumas coisas votadas bem às pressas. Porque seria?  Porque será que não é interessante ter a casa cheia sempre? Se a política visa o bem comum, porque se torna chata e corrupta?

A linguagem, ou os hermetismos, como na da música de Caetano Veloso, visa tão somente ser arrogante. Não desempenha um papel social agregador. Ao contrário, promove dispersão por meio da dificuldade de ser compreendida, da aridez da apresentação, do formato digno de corporações secretas, onde não se fala nomes, detalhes etc etc etc. “Em votação o inciso quarto do artigo quinto da emenda número dois do projeto tal”. O que? Dá para explicar? A oratória se refere a números, códigos, artigos, incisos, cláusulas,. projetos, apenas citados, mas não explicados em detalhe.

Isso também é chamado de terminologia, ou seja, a linguagem usada. Como em diversos segmentos, são os famosos “data vênias” para citar os advogados. Mas é um modo nada bem visto para impedir o entendimento, a participação e o direito ao contraditório. Serve apenas aos muitos que têm a intenção de se encastelar e se perpetuar em uma cadeira do Legislativo ou Executivo.

O uso hábil da comunicão em favor do poder econômico estabelecido faz o eleitor ouvir o que quer, mas nem sempre levar…

E quando cobram o Executivo, vereadores aliados são cuidadosos na escolha das palavras.  Mas, alguns problemas estão sempre latejando. Os vários flancos da administração abertos, como a relação com empreiteiras… Um vereador reclama de empreiteira que ganha obra e para. Não cita a empresa, o secretário ou o prefeito. Marca posição apenas eleitoral. Não se transforma em uma ação. Outro vereador critica o aumento da violência envolvendo escolas. Lê enorme justificativa e ao final, convida o secretário. A Câmara pode convocar. Inclusive o prefeito.

Então os discursos estão bem próximos do escamotear, ao mimetizar. Nesta lógica, a regra é: não importa o tema, fale, fale bonito, para empolgar as pessoas. Mesmo porque neste território não há nexo entre a palavra e a ação. Um vereador reclama da qualidade das obras no município. Outro, de que quebraram para depois quebrar novamente. Falam da reforma de escolas, segurança nas escolas, ventilação e refrigeração, médicos nas unidades, pediatras…  E a ação…