Placashomenagens300Dentre as homenagens por meio de placas, títulos e medalhas, as direcionadas ao comércio da cidade caracterizam um dos lados mais festivos, se não prosaicos, do Parlamento. E há uma lógica em tudo. Não é a lógica do social e sim do comercial. Em política se diz liberal. Ou seja, o pensamento político para o qual os eleitos trabalham. No Legislativo e no Executivo, de onde decorre ser o primeiro espécie de cartório do segundo. Na verdade, um ente gastador, já quer não cumpre a função de representação popular (representa a parcela aliada) e fiscalização do Executivo (nem de brincadeira).

Em 14 de agosto Telma de Souza (PT, terceiro mandato) propôs uma placa em homenagem aos 33 anos do bar do Torto. Ok. Já homenageou os 50 anos do Ao Chopp do Gonzaga… Reconhecida a importância do comércio, sem o qual a sociedade não teria esta formatação. Na seara referida já foram homenageados com placas o Último Gole, o Q Frango, A Crepeira da Praia, por seus dez anos… Ok. Agora imagine um presidente de um clube da cidade. Ele é eleito vereador e ganha o direito de propor uma homenagem para o clube que preside. No meio jurídico, em situação semelhante, o ator ou agente declara-se impedido de participar de relacionada causa. Juízes, advogados, promotores, desembargadores.. Ao sair, cumprem quarentena.

A prática de homenagens com este vício dá um caráter prosaico ao fato. O vereador propõe placa para o restaurante ou o bar que ele frequenta. Dá margem a troca de favor político ou social, quando não… O princípio ou a falta dele ocorre não apenas ai. É comum ao vereador, sendo da área de saúde, propor homenagens a parceiros econômicos.  Ou, sendo praticante de um esporte, agraciar mestres e discípulos. Enfim, o lado “corporativo” da atuação política não pode ser financiado com dinheiro público. “É uma prerrogativa da gente”, defende-se Ademir Pestana (PSDB, terceiro mandato).

Mas não é só. Não basta o argumento de que a Câmara não paga o Buffet. Este lado festivo que pretende remeter a uma Corte de um Império, com reinos e sub reinos é um modelo cansado, com formato desgastado. Contribui tão somente para perpetuar uma sociedade liberal, no mais estrito sentido, de que existe apenas para quem pode pagar. Tanto no comércio quanto na prestação de serviços, o agente ou ator social ofereceu um serviço e foi pago por isso. Esta festinha é apenas para este público relacionado. E parabéns aos empreendedores.

Chega a ser ridículo – A frase é do vereador Benedito Furtado (PSB, sexto mandato). Ele se referiu a projeto do vereador Kenny Mendes (PSDB, segundo mandato). Ele tenta por meio de um projeto de lei, regular o comportamento dentro dos cinemas. Ora, pois. Cada item descrito é mais óbvio que o anterior. Remete a burocracia estatal elevada ao infinito de George Orwell no livro 1984. “Não pode por o pé na cadeira da frente!”. É uma lei. Por sugestão, foi retirado de pauta novamente. Já circula desde 2015. A intenção pode ser boa, de poder assistir a um filme tranquilamente… Mas a aplicação ou o método não passam de receita já ditada pelas relações comerciais, ou liberais. Apenas. Um outro olhar é possível.