Patrocinador300É comum que a alegria do brasileiro transforme quase tudo em festa ou Carnaval, mas a farra das candidaturas numa eleição, como a próxima, tem outras motivações. Um olhar mais apurado sobre quem é quem na corrida para a Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Santos mostra variações do mesmo tema. Por trás da aparente festa da democracia, ora brutalmente violentada, o poder econômico usa de todos os artifícios para a manutenção do controle sobre as estruturas políticas.

Dentre os 380 candidatos à Câmara, divididos em 30 partidos, os postulantes podem ser agrupados de acordo com o interesse e a estratégia para o pleito. Dos 21 vereadores atuais, 18 concorrem à reeleição. Dos demais, um se apontará e dois disputam cargos no Executivo. É o grupo que já provou o gostinho da fruta e quer mais. Neste barco estão os que gozam de status político, cargos, salários, infraestrutura, recursos materiais e tempo gratuito em TV e internet para falar o que quiser em duas sessões semanais. Pela visibilidade conquistada é um grupo com muitas chances de se manter, pois o sistema político proporciona facilidades para tanto. O sentimento de renovação, porém, tem sido uma constante, pelo menos nas redes sociais.

O grupo da reeleição é também o que tem maior facilidade em conseguir financiadores. Afinal, os quatro anos de mandato servem também para isso. À medida que representam os interesses “da cidade”, dão aval político a todas as ações perpetradas pelo Executivo e companhias, prestaram as devidas homenagens e não causaram transtornos ao sistema vigente, estão habilitados a receber o apadrinhamento econômico-financeiro-eleitoral.

Na crônica política observa-se muitas vezes que o custo de uma campanha eleitoral pode até superar os ganhos de um cargo em um mandato de quatro anos. Sendo assim, é flagrante que o retorno para o detentor da cadeira não se restrinja aos salários. Afinal, esta conta não fecharia. E é natural que os financiados, após a posse, passem a ser cobrados, apresentando e defendendo estes ou aqueles projetos, nem sempre bem discutidos, nem sempre voltados aos interesses da maioria da população. É assim, por exemplo, que vemos uma cidade virar as costas para as camadas mais populares.

Em outro grupo de postulantes estão aqueles que conhecem os esquemas, mas ainda não chegaram lá. Lutam para isso. Sem entrar no mérito de suas intenções, integrantes deste bloco buscam usar de sua popularidade para conquistar aquilo que o primeiro grupo já possui. Para alguns, trata-se de uma “boquinha”, uma oportunidade de um ganho fácil, uma vez que não se exige muito esforço ou dedicação para o cargo.

É dentro desta parcela que começa a haver subdivisões. Ai estão as que podem ser consideradas candidaturas naturais, ou seja, de líderes de movimentos, de bairros e pessoas dedicadas a causas sociais e populares. Os partidos cobiçam estas pessoas e as convencem a se filiarem, prometendo ajudar em suas campanhas. Começa a surgir então a figura do candidato-laranja. Uns são laranjas conscientes e sabem que estão sendo usados. Um exemplo claro está publicado na rede social Facebook. O candidato afirma que espera obter 50 votos para ajudar no “caldo da coligação”. Ou seja, está permitindo ser usado para ajudar a engordar os votos do partido ou da coligação. Sabe-se que os votos irão ser somados para formar o quociente partidário, que dará a cadeira ao mais votado da lista partidária. Há também os que são laranjas, mas não têm consciência. Estes acham que têm alguma chance e que realmente serão ajudados pelos partidos, mas na verdade, são abandonados no meio do caminho. Só descobrem onde foram parar os seus poucos votos após a distribuição final das cadeiras.

Há ainda os que são considerados soldados dos partidos. Estes são tratados pelas siglas como se tivessem a obrigação de se candidatar. Principalmente quando já usufruíram de ajuda financeira, política ou ocuparam cargo indicado. Qualquer eleitor pode consultar a lista de candidatos do Tribunal Regional Eleitoral – TRE. Se estiver familiarizado com alguns nomes, vai notar que dentre os candidatos estão assessores de vereadores. É fácil compreender. O partido precisa de uma lista de nomes com alguma visibilidade, e também preencher cotas, como por exemplo a de 30% de mulheres na composição das chapas. Sem isso, todas as candidaturas da sigla podem ser impugnadas. Logo, cria-se uma disputa por filiados e filiadas com possibilidade de boas votações.

Um episódio recente expôs esta situação, protagonizada entre o DEM e o PPL. Se o eleitor conferir a lista do PPL no TRE verá que a candidata Sonia Regina Branco consta como filiada ao partido. Só que a mesma veio a público e divulgou que é candidata pelo DEM. Confusão formada, o PPL teve de retratar-se, dizendo que havia interesse da mesma em filiar-se e a ficha foi enviada por engano ao TRE. Mal estar à parte, isso exemplifica a volúpia partidária em lançar nomes para a disputa.

ESTRATÉGIAS ELEITORAIS REMONTAM AO TEMPO DO IMPÉRIO

Para obter bons resultados nas urnas, conquistando o maior número de cadeiras, os partidos utilizam-se de várias estratégias. A quantidade de nomes lançados é importante mas há uma limitação imposta pelo sistema eleitoral. Neste pleito, o PSB (de Benedito Furtado, Professor Fabião, Igor Martins) concorre com o maior número de candidatos. A lista tem 32 nomes. Outros partidos, como o PTN, por exemplo, lançaram 30 nomes. O PSDB concorre com 23 candidatos.

A tônica partidária é centrada em convencer pessoas com alguma expressão a lançarem candidaturas. Muitas serão utilizadas, não para dar representatividade legislativa à população, mas sim, para defender feudos partidários, com acesso a orçamento e recursos. E, como a luta pelo “poder” é antiga, as estratégias nada tem de modernas. Há, por exemplo, um método da época do Império e que consiste em carrear votos. A prática está associada a clientelismo, patronagem, ou ainda, “votos de cabresto”. Não há exatamente uma disputa. O partido lança candidatos em redutos específicos, canalizando votos daquele local para determinada coligação.

Em muitos casos, o lançamento das candidaturas visa apenas dividir o eleitorado. Por exemplo: em determinado bairro uma sigla tem um nome forte na disputa. O partido concorrente lança dois ou três nomes no mesmo local, com o objetivo de dividir o eleitorado e enfraquecer o outro postulante. São escalados para esta função os laranjas ou os soldados do partido.

Com um sistema político eleitoral mapeado, viciado e com distorções provocadas pelo poder econômico, até mesmo o interesse mais nobre do cidadão comum em servir à população pode ser contaminado já na origem. Para oferecer o nome à disputa o interessado precisa filiar-se a uma legenda. E, esta legenda tem dono e objetivos que nem sempre se harmonizam com nobres interesses. Cabe ao eleitor fazer um arrazoado e acertar na escolha.