adilson300A eleição para a próxima Mesa diretora da Câmara de Santos vai contribuir para o aprendizado da observação da cena política e o papel, história, trajetória e perfil dos seus atores. Ao tentar chegar à presidência do Legislativo, com candidatura anunciada em um bloco com onze adesões, Adilson Júnior (PTB, segundo mandato) coloca-se à prova. De jovem oposicionista, eleito nas fileiras do PT para o primeiro mandato em 2008, rendeu-se às conjunturas e, uma vez eleito para a função, poderá se tornar um dos maiores avalistas do tucanato combatido no passado.

A escolha do parlamentar para presidir a Casa legislativa nada tem a ver com a discussão simplista entre oposição e situação. Estão em jogo outros fatores e elementos, como a gestão de um orçamento de mais R$ 80 milhões por ano, controle sobre nomeações de cargos com altos salários, decisões sobre como e com o que gastar o dinheiro público. Por último vem a condução dos trabalhos políticos. Para o leitor, interessa aprofundar o olhar e a análise sobre o processo político, com vistas a uma participação crítica consciente.

Pelo menos um observador frequente do dia a dia da Câmara afirmou ser muito cedo para qualquer definição. Esta disputa interna mostrou-se no passado ser totalmente sujeita a mudanças repentinas. Para conquistar de fato o direito de presidir o Legislativo santista, Adilson terá de receber a unção do prefeito. Ou, já teria recebido? É esta a ação que vai consolidar em definitivo a sua guinada pragmática, no mais eloquente elogio da máxima do filósofo espanhol Ortega y Gasset: “O homem é o homem e a sua circunstância”.

Adilson Júnior já tem o apoio declarado de Benedito Furtado (PSB, cinco mandatos), Zequinha Teixeira (PSD, primeira mandato), Manoel Constantino (PSDB, oito mandatos), Roberto de Jesus (PSDB, segundo mandato), Antonio Carlos Banha Joaquim (PMDB, cinco mandatos), Sérgio Santana (PR, primeiro mandato), Hugo Duppre (PSD, segundo mandato), Kenny Mendes (PSDB, primeiro mandato), Sadao Nakai (PSDB, segundo mandato) e Fabrício DVD (PSB, eleito para o primeiro mandato).

Os votos anunciados dariam a Adilson a cadeira principal por dois anos. Mas, a história recomenda prudência. A eleição da Câmara santista registra episódios para lá de pitorescos, para não dizer sorrateiros. A disputa já foi alterada de última hora até com o uso de “sequestro” de parlamentar. O ano era 1996. A eleição da Mesa diretora era realizada no primeiro dia do ano, após a posse do prefeito. Um grupo majoritário, como o atual, de Adilson Jr, estava definido em torno do nome de José Lascane (PSDB, sete mandatos). Na tarde de 31 de dezembro, integrantes do grupo que perderia a eleição pediu um encontro com o vereador Marivaldo Aggio (1997 a 2000). Sob pressão lhe foi oferecida a presidência da Câmara, desde que mudasse de chapa. O encontro ocorreu em um escritório de advocacia, onde o parlamentar foi convencido a dormir, na companhia de outros que o “vigiavam”. Na hora da eleição da Mesa diretoria, Aggio chegou “escoltado” pelo grupo golpista, que o isolou, impedindo que conversasse com os ex companheiros de chapa. Lascane tinha um acordo com assinaturas, firmado em cartório. Nunca esqueceu a traição.

Um dos articuladores daquele golpe goza de prestígio, cargo e poder político nos dias atuais. Houve posteriormente outra eleição em que foi eleito presidente o vereador Jama, traindo o grupo liderado por Adelino Rodrigues.
Se passar por todas as provações, Adilson terá caminho livre para sua pretensão. O eleitor deve ser ponderado com o que se poderá dele esperar.

Quando eleito, Adilson tinha a seu lado a ex-prefeita Telma de Souza (PT) e Cassandra Maroni Nunes (PT). Os posicionamentos políticos eram discutidos em reuniões de bancada, balizando os discursos e o voto em plenário. No entanto, em uma primeira prova de fogo, o parlamentar mostrou o quanto estava disposto a fazer o embate político. Estava em pauta a votação sobre contas rejeitadas do ex-prefeito Beto Mansur. Para o PT, adversário ferrenho, seria a chance de deixar Mansur pelo menos oito anos fora da política, reprovando as suas contas. Bastava acompanhar a recomendação do Tribunal de Contas do Estado. Houve bastante discussão na bancada petista e ao final, Adilson decidiu declarar-se impedido de votar, abstendo-se. O motivo alegado era que, como locutor, já havia trabalhado nas empresas do ex-prefeito.

Na atual legislatura, até meados de 2015 Adilson tinha como companhia na bancada petista o vereador Evaldo Stanislau, em seu primeiro mandato. Mas, Adilson já começava a indicar posturas menos combativas e mais adesistas, votando com elogios propostas do Executivo tucano. Em seguida, abrigou-se no PTB e Evaldo Stanislau, na Rede. A elevação de Adilson a presidente da Câmara pode ser uma articulação para manter boa relação com uma região eleitoral importante da cidade, a Zona Noroeste. Também pode ter havido uma costura entre ele e Manoel Constantino, vizinho de região, para manter o “poder” local. É difícil de acreditar, no entanto, que isso seria suficiente para que os pleitos da ZN fossem atendidos. A região clama por obras de combate às enchentes, prometidas há décadas. Consultado sobre suas pretensões, Adilson não respondeu ao pedido de informações. Da mesma forma, procedeu negativamente o atual presidente do legislativo, Manoel Constantino.

Outra tese para a escolha de Adilson é que lhe foi oferecida a presidência para que não caísse na sedução de outra eventual chapa. Não estão na lista de apoios a Adilson nomes como Rui de Rossis (PMDB) e Telma de Souza (PT). Na história do regimento da Casa, vigorou até por volta de 2000 a regra que dava a presidência da Câmara para o vereador mais votado. A regra atual é a disputa por votos.