1710charge300As eleições ainda produzem resultados na Câmara de Santos. O tom da cobrança voltou e o alvo é o Executivo, na escolha de suas políticas e práticas. Passado o período de autopreservação, o resultado amargo para alguns reacendeu velhos problemas. Del Bosco foi irônico ao analisar a sessão de segunda-feira (10). “Esta não é a cidade que eu vi na propaganda, enganaram a população. Pelos requerimentos aqui apresentados, do lixo limpo, das escolas… Esta não é a cidade que eu vi na televisão”.

Uma discussão sobre a gestão do lixo limpo renovou várias questões que nunca obtêm respostas do Executivo. “Tem muito mistério na coleta seletiva”, bradou Geonísio Boquinha Aguiar (PSDB, não reeleito). Em outra situação, novamente com fogo amigo, o governo tucano foi chamuscado. “Nós precisamos conscientizar a população de quem é o responsável, quem é o culpado por não fazer… …É em outro endereço. Temos de direcionar para cobrar do local certo. Não estamos contentes com isso”, desabafou o governista Manoel Constantino (PSDB, eleito para o nono mandato).

Os discursos, temporariamente marcados pelo stress eleitoral, não deixam de ter um valor informacional. Há pelo menos duas vertentes. A sensação de que os políticos não mais estão em zona de conforto. E, de que o parlamento pode finalmente interferir.

Particularmente, Constantino se referia ao projeto Santos Novos Tempos, cujas obras paralisadas aumentaram o efeito das enchentes na Zona Noroeste. “Esta casa tem de começar a repensar os procedimentos. Foram mais de 500 votos (eleitores) colocando que eu era culpado pelas enchentes”. Também relacionou sua fala com a questão do lixo limpo. Não somos nós que fazemos. Tá na hora de cada um de nós repensar isso”, discursou o vereador, que apesar da análise se abrigou no partido do governo.

De Marcelo Del Bosco (PPS, terceiro mandato), derrotado na campanha para prefeito, seria de se esperar tom crítico. Com um requerimento sobre escolas em pauta, voltou-se ao embate com a Secretaria de Educação, cuja secretária adjunta elegeu-se vereadora pelo PP. Del Bosco falou criticamente sobre a gestão do lixo limpo, embora tenha sido secretário de pasta com interface ao tema. Falou também sobre falta de manutenção e de merenda nas escolas. “O prefeito esteve numa escola e comeu arroz, feijão e pepino, porque não tinha mistura naquele momento”. Daí emendou que a cidade discutida na Câmara não era a da propaganda do governo na TV.

Como o governo é loteado entre siglas partidárias, de modo geral, o parlamentar critica a pasta do partido alheio. A presença na Tribuna da Casa, do dirigente de uma ONG que atua com a coleta seletiva abriu uma discussão. Boquinha Aguiar centrou no tema. “Desde o Fabião (PSB, Professor Fabião, ex-vereador, secretário de Cultura), quando era secretário do Meio Ambiente… … Infelizmente nem o Fabião e nenhum secretário levou a coleta reciclável para frente”, resumiu. A operação da coleta é feita pela Prodesan, presidida por Odair Gonzales (PR), que tem na Câmara, Sérgio Santana e terá ainda Lincoln Reis.

As indagações a respeito do serviço constituem um mistério, segundo o tucano. Ele comenta, por exemplo, sobre a coleta de papelão no Gonzaga, que usa inclusive mão de obra de crianças, já denunciada. Além disso, há um desestímulo ao se recolher o material reciclado em caminhões compactadores, da Terracom, a terceirizada na limpeza pública. “Ninguém está separando mais, porque chega o caminhão e mistura tudo”. As pessoas desistem de lavar e separar, analisou. “Não temos uma política de reciclagem do município”. Esta foi uma maneira protetora com o governo de apontar um flanco aberto na gestão.

Também falou sobre o lixo limpo, Cacá Teixeira, tucano releito pelo segundo mandato. Ex-secretário de Ação Social, em vez de explicar, questionou o motivo de não ter sido feito determinado convênio com a ONG. Ademir Pestana (PSDB, segundo mandato) emendou os comentários. O lixo limpo, como demonstrado em reportagem anterior, é um dos assuntos que mais rendem manifestações em plenário. Existe a noção de que trata-se de um negócio altamente lucrativo. Não se sabe, porém, o quanto se recolhe, o quanto é reciclado, quem ganha e quanto se ganha com a coleta seletiva. São inúmeros os requerimentos nesta área. O que acontece neste setor é certamente alvo potencial da atenção popular. O cidadão que lava, separa e acondiciona o lixo reciclável, no mínimo, deve ter a garantia de que a sua parte de esforço não está sendo desperdiçada ou utilizada de forma que não traga benefício para a população. E não apenas para grupos ou pessoas.