UPA ZN 01.04.2019 - 2

Quando a ineficiência impera e quem deveria intervir no caos lava as mãos, abre-se espaço para a falta de civilidade e até mesmo para atos de brutalidade.

A UPA da Zona Noroeste, terceirizada para a organização social SPDM por R$ 18 milhões/ano não completou nem dois meses de funcionamento e já dá seguidos exemplos de desorganização e de descaso no atendimento. A população está enfurecida, pois é tratada como gado. Mães com filhos doentes esperam cinco horas ou até mais por assistência, sem receberem qualquer justificativa.

Pessoas com sintomas graves são classificadas como de baixa prioridade. Casos envolvendo suposta negligência e também erros de diagnósticos têm repercutido.

Alguns exemplos:

1) No dia 3 de março uma idosa que faleceu na unidade após dar entrada com dores no peito, estômago e pressão alta, foi classificada como caso não urgente. Ela foi submetida a uma espera que não poderia ter ocorrido diante do quadro apresentado.

2) No mesmo mês, uma mulher que também enfrentou longa espera convulsionou e teve de ser atendida no chão da recepção.

3) Esta semana houve o caso de troca de receituários da pediatria. Uma criança tomou uma injeção prescrita para outra. Além disso, relatos dão conta de extravio de exames laboratoriais.

NOITE DE 3/4
Na noite passada, mais um fato lamentável teria ocorrido. Uma mãe, revoltada com o péssimo serviço prestado pela gestora, teria reagido da pior forma possível.

Páginas no Facebook apontam que a munícipe estava com o filho doente e se revoltou com o descaso no serviço. Ela teria agredido uma funcionária administrativa. A profissional é assistente social aposentada da Prefeitura e atuava na Zona Noroeste, além de pertencer ao quadro da UPA Central, que também é terceirizada. Ela está em observação na Santa Casa de Santos.

Primeiro é preciso pontuar: nenhuma situação justifica o uso de violência contra trabalhadores e trabalhadoras. Essas pessoas também são vítimas deste modelo de gestão (terceirização da saúde) calcado na precarização das condições de trabalho e que, ao mesmo tempo, gera lucros altíssimos para as organizações sociais de saúde.

Estas OSs são empresas orientadas apenas para a busca de ganhos econômicos e sem o mínimo comprometimento com a qualidade da saúde pública. Pelo Brasil inteiro OSs intensificam a exploração de profissionais, que atuam sobrecarregados, com baixos salários e com pouco acesso à capacitação profissional. Via de regra, quando os contratos de gestão com o poder público chegam ao seu prazo final ou são rescindidos, as OSs vão embora deixando os trabalhadores com pagamentos atrasados e sem os direitos garantidos pelas leis trabalhistas.

Tampouco é correto cair o discurso governista de que a culpa do mau atendimento é dos munícipes que vêm de outras cidades. Tal como acontecia no antigo PS Central e no antigo PS da ZN, a quantidade significativa (25% a 35%) de pacientes de municípios vizinhos é uma realidade antiga em Santos, por sermos cidade polo da Baixada. Santos recebe mais verba da saúde do que os vizinhos exatamente por esse perfil.

A população deve transformar a ira contra os trabalhadores terceirizados em organização para exigir o fim das OSs e a melhoria do SUS.

Deve substituir as críticas contra pacientes de cidades vizinhas por mobilização contra a falta de transparência no uso do dinheiro da Saúde e contra a falência da política pública.

Deve transformar a justa indignação causada por todos fatos acima narrados em ação, cobrando os vereadores a se posicionarem, a cumprirem minimamente seu papel. Afinal, há 5 anos a Câmara de Santos aprovou o Programa Municipal de Publicização, atendendo cegamente uma determinação do prefeito.

Com essa legislação (Lei 2.947/13), as OSs tiveram carta branca para entrar na rede municipal sem qualquer debate com a sociedade. Mas nem o chefe do Executivo e nem os representantes do Legislativo dependem das UPAs quando ficam doentes. Também não tiveram parentes sendo vítimas de descaso e negligência.