Em 70 sessões legislativas realizadas neste ano, os vereadores aprovaram um total de 338 votos de congratulações para personalidades, entidades e empresas. Deste total, 103 requerimentos do tipo têm a assinatura do vereador Braz Antunes (PSD, 3º Mandato). Isso significa que é dele a iniciativa de 31% dos parabéns oficiais expedidos pelo Legislativo, com liderança folgada em relação aos demais 20 vereadores.
Para se ter uma ideia, o parlamentar “boa praça” conseguiu o feito de, em apenas uma sessão, apresentar 6 votos de congratulações. Isso ocorreu em 25 de junho. Já no último dia 22, foram 5 requerimentos de parabéns. Contando com os de pesar, totalizaram-se 11 trabalhos sem efeito prático para a comunidade santista.
Vale lembrar que, de acordo com o Regimento Interno da Câmara (Resolução 61/2014), cada vereador pode apresentar, no máximo, um requerimento de congratulações por sessão (artigo 76º, parágrafo 1º).
Independente dos limites individuais, vemos que as 338 cartinhas de felicitações aprovadas em 2018 superam a quantidade de dias do ano que já tivemos até aqui. O número deve crescer, já que faltam ainda 9 sessões para findar o ano.
Não temos nada contra a política de reconhecimento feita em nome da Câmara. O problema é o peso que alguns mandatos dão a este tipo de trabalho legislativo, que de concreto em nada contribui para a coletividade e mais faz do parlamentar uma espécie de relações públicas.
Sem contar que boa parte das felicitações parlamentares, tanto quanto as homenagens em forma de títulos, placas ou medalhas, vão para empresas ou para grandes empresários. Uma forma antiga de puxa-saquismo que ainda tem muito espaço no Castelinho. Clique no quadro abaixo para ver o ranking das “congrats”.
PASTOR ROBERTO APROVA VOTOS DE CONGRATULAÇÕES A FUNDAÇÃO E EMISSORA LIGADA A SEU PARTIDO
Quando não servem para encher a bola de representantes dos segmentos comerciais e empresariais, os cumprimentos oficiais em forma de requerimentos de congratulações acabam sendo um mecanismo para propaganda dos parlamentares para seus próprios partidos.
O vereador Roberto Teixeira (PRB, 3º Mandato) aproveitou o instrumento legislativo para exaltar a legenda da qual faz parte. No último dia 8, ele aprovou votos de congratulações à Fundação Republicana Brasileira (FRB), entidade ligada ao PRB e à Igreja Universal do Reino de Deus. Tudo porque a Fundação está lançando a primeira faculdade privada ligada a um partido político.
A instituição de ensino, diz o requerimento do Pastor, se chamará “Republicana” e praticará preços de mensalidades abaixo do mercado. Terá cursos de graduação na área de Ciências Políticas e de pós-graduação em Gestão Pública, Direito Eleitoral e Política Contemporânea.
Eis a justificativa para que os eleitos pelo povo enviem parabéns oficiais: “É uma excelente notícia um partido político estendendo-se de sua função pública para a função social educando e formando novos profissionais”, escreve o vereador em sua justificativa.
Ironicamente, o PRB é um dos que defendem o “Escola sem Partido”, projeto que está sendo chamado de “Lei da Mordaça”, pois visa banir das escolas o pensamento crítico, mediante a desculpa de que professores promovem doutrinação política nas salas de aula.
Mais um nicho
Boa parte das igrejas, especialmente as associadas a partidos políticos, já atuam calcadas na lógica comercial. A expansão de um modelo de negócios já tão consolidado nas casas de fé para o rentável filão da educação não chega a surpreender. Afinal, uma das leis do empreendedorismo de sucesso é a diversificação de investimentos.
O que surpreende é a Câmara – um espaço que deveria focar o interesse público – estar sempre a serviço de interesses restritos. Outro exemplo disso aconteceu na sessão da última segunda (12), quando a TV Record, pertencente à mesma igreja, também recebeu cumprimentos do pastor vereador. Em junho o vereador puxou mais sardinha para sua base eleitoral, aprovando que a Câmara congratulasse o Grupo Calebe, pertencente à Universal, e também a Comunidade Evangélica do Brasil.
Uma excelente notícia de verdade? Ver as escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio em melhores condições, para que nossas crianças sejam de fato preparadas para ingressar não em faculdades privadas, mas, sim, em universidades públicas, para onde vão majoritariamente os que puderam pagar pelo ensino privado na base.
Aos que lutam por isso, nossas congratulações. Vereadores de Santos, para quem eles trabalham?
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